segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Crack, é possível vencer

Desde que comecei o trabalho de enfrentamento ao crack, em março de 2011, quando ainda estava à frente da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS), encarei muita oposição, crítica e resistência. Principalmente, quando as equipes de abordagem da SMAS começaram a entrar nas maiores cracolândias da cidade para tirarem jovens viciados desses locais, que mais parecem campos de concentração sem muros.

Mesmo com toda a corrente contra que existe, continuo acreditando que colocar esses meninos e meninas que encontramos em condições aterrorizantes para se tratar é a melhor saída. A prova disso são as histórias que o jornal Extra traz hoje. São depoimentos de alguns dos jovens que viviam nas garras do crack, que foram acolhidos pelos profissionais da Assistência e que, hoje, estão longe das drogas, em busca de uma nova vida.

Vale a leitura: BUSCANDO A INDEPENDÊNCIA

Adolescentes acolhidos pela Secretaria de Assistência Social durante operações em cracolândias são preparados para o longo caminho que precisam percorrer até terem condições de retornar para casa CRACK, A DIFÍCIL VIAGEM DE VOLTA A CIDADANIA

Eles têm 16 anos. Estagiam juntos na Imprensa da Cidade. Gostam de funk, têm namoradas e vivem longe da família. As semelhanças entre os dois rapazes começaram bem antes de se tornarem "irmãos de consideração". Os dois adolescentes eram usuários de drogas e foram acolhidos pela Secretaria municipal de Assistência Social durante operações em cracolândias. Agora, percorrem juntos o longo caminho de volta para casa.

— No começo, eles não aceitam. Mas conversamos e traçamos objetivos que os motivem a aderir ao tratamento. Com o tempo, a mudança física e psicológica é enorme. Eles chegam com a saúde muito fragilizada — conta Eloecy da Rocha Ferreira, diretora do abrigo Casa Viva, em Laranjeiras.
X. sabe que o percurso para uma vida sem o crack é longo e cheio de armadilhas. Acolhido pela primeira vez em 2010, chegou a estagiar mais de um ano na prefeitura, antes de ter uma recaída. Para sustentar o vício, roubava turistas. Quatro meses depois, voltou para o abrigo decidido a ter um novo destino.

— Dessa vez, foi mais difícil aguentar a abstinência. Agora, não sinto mais vontade de fumar. Não quero mais ir pela cabeça dos outros, quero seguir a minha vida — diz o rapaz, que fugiu de casa aos 11 anos por causa das agressões que sofria da mãe.Y. começou mais cedo a usar drogas, aos 7 anos.

Fugiu de casa quando começou a querer roubar a própria mãe para comprar drogas. Hoje, com a bolsa de R$ 360 que recebe no estágio, manda dinheiro para ajudar nas contas de casa. Tanto ele quanto X. já estão num abrigo aberto, a Casa Lar, onde podem sair para trabalhar e curtir os fins de semana.

— Nos dois casos, as famílias ainda não têm estrutura para recebê-los de volta. Então, eles estão trabalhando a autonomia, aprendendo uma profissão e um código de condutas para que, com 18 anos, tenham condições de se tornar independentes — afirma a gerente de recursos humanos da Imprensa da Cidade, Shirley Mendes.

Mãe luta para ajudar filhos dependentes.
Mãe de 11 filhos, ao menos três dependentes químicos, ela luta para manter os adolescentes longe do crack. Um dos meninos, de 12 anos, acaba de voltar para casa, após um ano de internação.
— Eu fiquei cinco anos presa e, quando saí, meus filhos estavam perdidos. Quero consertar tudo. Fiquei muito feliz quando Z. saiu do abrigo. Ele está outra pessoa, mais estudioso, mais carinhoso — comemora ela.

Além de Z., a mãe batalha contra a dependência de uma filha e de outro rapaz, com 15 anos. Ele ainda esta em tratamento num abrigo.
— Tem horas em que a gente fica cansada, mas não pode desistir. Esse meu filho já pode vir para casa nos fins de semana, mas prefere não vir por medo de uma recaída. Fico muito orgulhosa de ele pensar assim — conta.

Para o psicólogo Vagner Rangel, do Centro de Referência Especializado de Assistência Social Aldaiza Spo-satti, a chance de recuperação de adolescentes é maior do que a de adultos. Ele recebe os jovens que saíram de abrigos para continuar o tratamento contra o crack:

— Quando eles voltam do acolhimento, é preciso apoio da família e acompanhamento médico. É importante também que evitem situações onde seja fácil conseguir a droga, mas é difícil, porque, na maioria dos casos, as famílias moram em áreas dominadas por traficantes.

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