Todo mundo sabe – ou deveria saber - que o efeito das drogas, seja ela qual for, é devastador. Com o crack, os danos são irreversíveis e isso é indiscutível. Quando fui secretário de Assistência Social, implementei o acolhimento compulsório de crianças e adolescentes dependentes, em especial, dependentes do crack e ainda a vejo como única saída em relação ao enfrentamento do problema. Não faz tanto tempo assim e uma comissão de notáveis, composta por artistas, intelectuais e até mesmo políticos, aprovou uma proposta para a descriminalização do uso de drogas no Brasil. Pelo texto, não será classificado como crime o uso de entorpecentes ilícitos se aquele que for pego transportar consigo drogas para consumo pessoal.
A proposta, já bastante debatida, esclarece que o uso pessoal será caracterizado pelo cultivo doméstico de plantas, no caso da maconha, e quando a quantidade apreendida for suficiente ao consumo médio individual por cinco dias. Já que a comissão não faz distinção entre os diferentes tipos de drogas, me pergunto mais uma vez: no caso do crack, por exemplo, como fica a questão do consumo pessoal nesses cinco dias?
O que se vê nas ruas do Rio de Janeiro hoje em dia é uma geração que vive sob a ameaça do crack. Eles, nossos jovens, estão à mercê do vício dessa droga devastadora. Eu, que participei do acolhimento de mais de seis mil pessoas das cracolândias da cidade, sei o quanto é difícil lutar contra esse vício. Há casos de viciados que consomem até 100 pedras de crack por semana. E se uma pessoa for encontrada com 100 pedras de crack será considerada traficante ou um simples usuário?
Há cerca de dois anos eu dei uma entrevista ao jornal O Dia onde eu afirmava ser esdrúxula uma legislação que permite esse tipo de situação e no que dependesse de mim nunca seria aprovada. Por sorte ainda não foi. E aproveito para repetir que se a política de repressão não deu certo no mundo, a da liberação também não deu. A Holanda, por exemplo, é um país que já está revendo essa liberação.
Recebi, e ainda recebo, muitas críticas por conta da minha luta contra o crack e contra a legalização da maconha. Na minha gestão, mais de 400 jovens foram retirados desses locais e, hoje em dia, 12 deles se tornaram atletas premiados de judô. Nenhuma dessas críticas chegaram acompanhadas de propostas para salvar vidas e evitar que o problema se alastre ainda mais. Uma pena.
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